Uma técnica malandra para discutir qualquer
assunto, sem que se queira explorar o tema com honestidade, é expor uma
situação secundária como se fosse de primeiro escalão. A utilização deste ardil
se presta a manter os holofotes num determinado fator, previamente escolhido,
e, desta forma, eliminar as possibilidade de que as causas principais sejam
abordadas.
A prática mencionada tem se mostrado muito útil
em vários campos da vida pública brasileira, como demonstra o colunista Elio
Gaspari - no artigo “O PMDB e a Petrobrás” -, em que argumenta, em linhas gerais, que a preocupação do
partido (ao propor investigação dos negócios "escusos" da estatal) não é a transparência
ou a correção no trato da coisa pública, mas sim obter alguma vantagem,
política ou pecuniária.
Há um paralelo direto entre o jogo político
citado e a maioria das discussões sobre a criminalidade e a (in)segurança
pública, onde o tema mais frequentado é a violência policial, o despreparo
profissional dos policiais, a necessidade de desmilitarização das Polícias,
etc...
Acredito que este “desvio de foco” se
presta a blindar políticas públicas equivocadas e desastrosas, mas – talvez em
maior grau de intensidade – também para criticar, sistematicamente, o trabalho
policial, por questões ideológicas, nutridas pelo revanchismo da esquerda
tupiniquim.
A considerar a condição de SEGURANÇA
PÚBLICA como o resultado de um contexto que seja favorável à urbanidade, à coexistência
pacífica, à qualidade de vida e ao encontro, não há como definir a atuação
policial como uma questão de primeira grandeza.
A tratar o assunto tecnicamente trago à colação a fala de dois pesquisadores:
Em primeiro lugar, o aumento no número de policiais não reduz, necessariamente, as taxas de criminalidade, nem aumenta a proporção dos crimes resolvidos. O mesmo ocorre com a “injeção de dinheiro” nos departamentos policiais, aumentando os orçamentos da polícia e da sua mão-de-obra.
É claro que, se não houver nenhum policiamento, haverá mais crimes. Mas, uma vez que um certo limiar tenha sido alcançado, nem mais policiais nem mais dinheiro parecem ajudar muito. Tais medidas de controle do crime têm de fato algum efeito, mas constituem uma parte menos importante da equação.
As condições sociais, como renda, desemprego, população e heterogeneidade social, são indicadores muito mais importantes de variação nas taxas de crime e de resolução de crimes (SKOLNICK, J.H.; BAYLEY, D.H. Policiamento Comunitário: Questões e práticas através do mundo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006, p. 67).
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