quinta-feira, 13 de março de 2014

As Crimeias do Brasil

Duas favelas cariocas foram “ocupadas” para a instalação de Unidades Pacificadoras de Polícia, e isto em pouquíssimo tempo (cerca de oitenta minutos), entretanto o olhar interdisciplinar a buscar os valores subjacentes à mensagem, e a tratar os termos “pouco tempo” e “muito tempo”, sobretudo sob aporte das indicações do contexto contemporâneo e explorar o percurso ocupação-desocupação-ocupação.

Ocupadas “estavam”, fato sabido universalmente, as favelas nomeadas na reportagem. As forças do Estado (des)ocuparam, por sua presença e ação, o espaço físico sob o mando dos narco-traficantes, e, com isso, (re)ocuparam os territórios em nome do Estado, ou seja, o que antes era “terra de bandido” agora (???) está sob a tutela do Estado, como se não estivesse antes, se estivesse não haveria necessidade de “ocupação”.

Todo o processo acima foi relatado como de curtíssima duração, aliás, quase todo o processo acima, pois o estado primitivo de ocupação, por organizações criminosas, não foi de curtíssima duração, foi um longo processo histórico, vivenciado por gerações.

Acredito que a ocupação não se traduz, precisamente, em manter ocupado. Penso que a manutenção da ocupação é que é o processo chave. Mas se a população não foi retirada e, de fato, ocupa o espaço físico, não é o caso de dizer que as favelas sempre estiveram ocupadas? A ocupação por pessoas relegadas a segundo plano pelo Estado resulta em necessidade de ocupação?

O termo “ocupação” nos remete a processos militares, ou seja, buscar o inimigo em seu território e libertar este território da influência inimiga.


Não é o caso de colocar em julgamento o conceito, em si, das operações e implantações de UPPs, mas sim de entender o quanto está imiscuído à cultura brasileira as questões de insegurança pública em relação ao abando no Estado, que para atender seus cidadãos precisa de um processo de “ocupação”. Talvez sem levar em consideração o tempo, e os processos sociais, que durou a ocupação dos morros e favelas pelo crime organizado.

Assim com a península da Crimeia, na Ucrânia, tem a população composta por mais russos que ucranianos, num processo que é histórico, remontando séculos, nossas favelas foram ocupadas num processo muito mais antigo que as UPP, com os decorrentes traços sociais e culturais...

Levará mais que 80 minutos para ocupar de fato as favelas.

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